Carregar a alma sobre duas rodas nem de longe é uma tarefa simples, preciso salientar que da observação interior nasce um novo espirito, recheado, principalmente pela busca e pela aventura.
Justamente na estrada minha velha e cansada alma se despedaçou, parte por parte, de forma a não mais restar um só resquício do que fui, encontrando o caminho para dispor absolutamente tudo, despir-me de tudo, conceitos ideais, ideias, pré-conceitos, definições, afirmações, sendo necessário para isso sair sempre com o coração aberto.
Quantos de nós estariam dispostos verdadeiramente colocar abaixo determinados conceitos pelo qual defendemos e lutamos por toda nossa vida? Quem verdadeiramente estará disposto a colocar um ponto final e recomeçar absolutamente do zero? Teríamos a coragem de confrontar-nos com uma nova existência diferente de tudo que sabemos, que defendemos e imaginamos ser o correto, e do caminho supostamente mais adequado?
Sem à pútrida interferência "poluição" imposta pelo homem ao homem sendo que o único caminho para descobrir-se é o isolamento total e absoluto, assim entrando em contato com seu "EU" verdadeiro sendo que o que mais causa ansiedade talvez seja o fato de descobrir o que, ou quem você realmente é, e se será agradável essa descoberta, quase sempre é lamentável a descoberta de quem você foi.
Pablo Neruda diz:
"Algum dia, em qualquer parte, em qualquer lugar, indefectivelmente, encontrar-te-ás a ti mesmo e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga das tuas horas."
Esta no entanto, foi uma das verdades mais avaçaladoras em que me deparei apenas precisando entender para qual lado a balança penderia mais.
Não desejo ser prolixo e espero de fato fazer-me entender em determinados momentos, entretanto o relato que seguirá aconteceu em minha volta de São Paulo - SP para Porto Alegre - RS no trecho final da viagem, depois de praticamente 2,300 quilômetros percorridos com uma costela quebrada, em que, após uma queda antes da viagem com minha CB 450cc ano 90 próximo de casa alguns dias antes me fez viajar em um estado físico bastante comprometido.
Havia passado pela cidade de Laguna - SC onde soube que durante aquele fim de semana ocorrera um grande encontro de motociclistas, com shows e muitas atividades, fui visualizando muitos destes que participaram pela estrada chegando então em um paradouro, o Posto 86, já no estado do RS.
Chegando ao paradouro era impossível contar quantas motocicletas estavam paradas lá todas oriundas deste evento na cidade de Laguna, larguei a moto em um canto separado e com dificuldade desci procurando esticar o corpo, naquele momento a cada batimento cardíaco a costela quebrada mostrava que ainda estava ali.
Aproxima-se um rapaz que desprendia-se de seu grupo, em minha direção, indagando-me:
- Ótimo o encontro não?
- Pois é.
- Legal. E a "motinho" aguentou ida e volta foi?
Naquele instante de deboche em que fez uma afirmação em parte pergunta, uma fúria repentina tomou meus olhos após tudo que havia passado para chegar à SP tudo que passei lá além da volta, distância, costela quebrada, frio (mês de agosto), então respondi:
- Aguentou sim, muito bem, mas eu não estava em Laguna.
- Ah é. Está vindo de onde? (com um belo sorriso no rosto quase que como se estivesse confirmando sua previsão de impossibilidade que eu estivesse fazendo uma viagem de 690 quilômetros)
- Estou voltando de SP. Respondi.
- SOZINHO?
- Evidente. Não preciso de mais ninguém, para falar a verdade, poucos me acompanhariam. Afinal não significa o quão rápido pode ir mas sim quanto sofrimento você conseguirá suportar principalmente em lugares onde o dinheiro não possuí valor.
- Difícil existir lugar assim não? (Já com um sorriso constrangido)
- Para muitas pessoas, a maioria, sim, não existe.
El Loco Viajero em "Meus Relatos de Viagem"
Embora um relato bastante simples como esse possa parecer insignificante aos olhos de quem acaba de ler, particularmente considero um dos fatos mais importantes e que definiria até então os rumos de como eu percorreria os mais de 30 mil quilômetros adiantes, devido ao fato de que ainda mesmo que em breves instantes pensava em participar de algum grupo ou moto clube, mas depois de observar que nada havia de trocas para ser feito e que havia muito pouco ou praticamente nada em comum, à partir daquele momento, essa ideia simplesmente desapareceria de vez de meus pensamentos.
Acrescento que o rapaz no qual surgiu este dialogo, montava uma Hayabusa 1300cc passando-se por uma caricatura muito mal feita de piloto de fim de semana, de espírito e coerência inexistentes e superficialidades surpreendentes, me fazendo pensar no instante em que retornava para estrada em um apelido bastante apropriado para essa espécie de motociclistas, "Mosca Varejeira", pois pilotam rápido com pouca ou nenhuma habilidade, são coloridos por natureza, e possuem vida curta nas estradas, além de serem repugnantes.
“ E me arrastei como tenho feito por toda minha vida... Indo atrás de pessoas que me interessam... Porque os únicos que me interessam são os loucos; os que estão loucos para viver, loucos para falar, que desejam tudo ao mesmo tempo e nunca bocejam ou dizem obviedades, mas queimam, queimam, queimam como fogos de artifício pela noite.”
Jack Kerouac, em "On the Road".
(Foto 1: Trilha para chegar até o farol Capão da Marca de Fora, Lagoa dos Patos-RS), (Foto 2: Interior do Rio Grande do Sul divisa com o Uruguai, localidade indefinida), (Foto 3: Ponte para trilha dos Canions Itaimbézinho-Cambará do Sul-RS), (Foto 4: Entre Tavares e Mostardas trilha para chegar até a beira da praia isolada, local inexistente), (Foto 5: Farol da Solidão-RS 70 quilômetros de praia deserta, local indefinido), (Foto 6: Região de São Francisco de Paula serra gaúcha, Campos de Cima da Serra), (Foto 7: Lagoa do Peixe-RS sem lembranças), (Foto 8: Molhes de Rio Grande-RS sobre pedras; 4 quilômetros dentro do oceano Atlântico), (Foto 9: Trilha Morro do Farol Ponta do Catalão-SC), (Foto 10: Interior do Uruguai, Tríplice Fronteira; Brasil Uruguai Argentina).
Em se tratando de leitura, um dos melhores livros de aventura que tive a oportunidade de ler nos últimos tempos, Descobridores do Infinito aborda assuntos "proibidos" dos aventureiros e esportistas radicais das mais diversas atividades desde montanhistas, navegadores, alpinistas, pilotos, surfistas de ondas gigantes, praticantes de snowboard, praticantes de basejump, entre outras atividades, falando brevemente de relatos inclusive das grandes explorações Antárticas de 1911.
Este livro recheado de espirito de aventura trata também de temas delicados como o enfrentamento do pior dos medos, a morte, além das crenças e da fé e as motivações destes aventureiros, o que cada um procura encontrar quando aventuram-se em suas atividades.
Ainda salientando que a autora e alpinista Maria Coffey foi a primeira mulher americana a chegar no topo do Everest.
Nas próximas postagens seguirei abrindo minha biblioteca particular e colocando aqui minhas impressões.
Em se tratando de leitura, um dos melhores livros de aventura que tive a oportunidade de ler nos últimos tempos, Descobridores do Infinito aborda assuntos "proibidos" dos aventureiros e esportistas radicais das mais diversas atividades desde montanhistas, navegadores, alpinistas, pilotos, surfistas de ondas gigantes, praticantes de snowboard, praticantes de basejump, entre outras atividades, falando brevemente de relatos inclusive das grandes explorações Antárticas de 1911.
Este livro recheado de espirito de aventura trata também de temas delicados como o enfrentamento do pior dos medos, a morte, além das crenças e da fé e as motivações destes aventureiros, o que cada um procura encontrar quando aventuram-se em suas atividades.
Ainda salientando que a autora e alpinista Maria Coffey foi a primeira mulher americana a chegar no topo do Everest.
Nas próximas postagens seguirei abrindo minha biblioteca particular e colocando aqui minhas impressões.
Nenhum comentário:
Postar um comentário