Após algum tempo longe de blogs por ter chegado a conclusão que não se parecia mais com o que queria realmente e de fato dizer ou tentar explicar, ainda assim, devo muito ao meu antigo blog Na Rota dos Faróis, onde tentava ali, relatar enfadonhamente algumas aventuras motociclísticas que duraram pouco mais de dois anos.
Foram exatos 40,092 quilômetros percorridos pelo Brasil e pela América do Sul, sobre duas rodas, muitas pessoas conheci neste tempo em que a estrada tornou-se viciante e a motocicleta uma espécie de casa ambulante.
Todo tipo de terrenos foram desbravados desde estradas de pedras, areia sem estradas, rodovias, chuva, frio, neve, sol escaldante entre outras adversidades, todas elas inerentes ao sonho de desbravar o máximo que minhas condições permitissem.
Não tratarei aqui de relatos de bravura e coragem, até porque não foi exatamente isso que encontrei neste tempo em que vaguei sobre duas rodas, tão pouco era o que procurava em minhas jornadas, ao contrário, procurarei tratar aqui justamente das angústias da minha busca pelo auto-conhecimento, descobrimento de meus limites, sobre meus medos (foram muitos) e muitos deles concretizados, deixando-me completamente estupefato.
A fotografia foi uma herança de minha jornada de praticamente dois anos, sendo que desde a adolescência possuía profunda admiração por ela, assim como pela geografia, história e também por motocicletas.
Resolvi por bem não seguir aqui no Dualidade Paralela a ordem cronológica dos fatos e das viagens por acreditar não haver importância nos fragmentos mas sim de uma forma geral, todavia procurarei sempre evidenciar alguma história que possua alguma relevância para o contexto dos fatos, e que sem dúvidas, histórias, são o que não faltam.
No antigo blog Na Rota dos Faróis em que as postagens tornaram-se cansativas e entediantes, permanecerá apenas as músicas e as citações de autores, escritores e poetas que prezo, pois sempre estão comigo em forma de livros, e a música em forma de mp3 nas viagens evidenciando um pouco do que realmente aprecio, e como pensava Friedrich Nietzsche (A vida sem música seria um erro) e também por acreditar que livros não são apenas uma janela para a vida mas sim grandes portas.
Certa vez em um posto de combustíveis, exausto, e completamente mal trajado, com muito barro após 1000 quilômetros percorridos com muita chuva, sabendo ainda haver mais 700 a percorrer, entrei na loja de conveniências para tomar um café gratuito oferecido aos viajantes que abastecem, olhando fixamente uma prateleira de livros que ali estava a venda, evidente, o dinheiro não era suficiente, havia apenas para o essencial, combustível e uma ou outra refeição principal, nada mais.
Fui abordado por um senhor bem apessoado de seus quarenta e poucos anos que perguntou se era minha a moto carregada lá fora, concordei apenas com um aceno de cabeça, ele apresentou-se e logo me perguntou de onde eu estava vindo, respondi que voltava do Rio de Janeiro em direção a Porto Alegre, onde um sorriso começou a brotar-lhe do rosto, perguntando-me quantos quilômetros eu estaria percorrendo, novamente respondi que naquela ocasião, cerca de 3200 ida e volta, assim, obrigou-se a relatar seu antigo sonho, que possuiu uma SR 450cc na década de 90 e que sonhava em viajar naquela moto, mas que no entanto, nunca chegou a pegar nem mesmo uma vez a auto-estrada, que havia lhe faltado a coragem. Perguntou-me também que formação eu possuía, respondi de imediato que não havia tido muitas oportunidades de frequentar a escola, quando sua esposa o chamou apressadamente pois se atrasariam, quando me viu com um sorriso constrangido não sabendo como cumprimentar-me, ainda assim o fez, com um breve "Olá" esticando sua mão delicada, uma mulher muito bonita, elegante e sofisticada pela impressão que tive, assim, com os dois postados diante de mim, a última pergunta surgiu:
- O que você está buscando exatamente?
Um breve, mesmo assim, interminável silêncio instalou-se naquele momento, uma enorme onda de lembranças invadiu meus pensamentos, sendo assim, respondi o óbvio para o momento; Não sei ainda.
Antes de irem perguntaram - me se já havia almoçado, e deixaram o cartão do restaurante que são proprietários na cidade de Itajaí - SC, disseram que como não desviaria meu caminho estava convidado a almoçar ou jantar lá, independentemente do horário que chegasse a cidade.
Não me dirigi até o restaurante, mas eles sem saberem, naquele breve intervalo de tempo, colocaram a pergunta mais importante em meus pensamentos e que me acompanha até hoje:
O que você busca exatamente?
A Desgraça do Sonhador
E vocês sabem o que é um sonhador, cavalheiros? É um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura? E não somos todos mais ou menos sonhadores?
Fiodor Dostoievski, in "Escritos Ocasionais"
(Foto 1: Serra do Rio do Rastro - SC), (Foto 2: Cordilheira dos Andes - Chile), (Foto 3: Imbituba Praia do Porto - SC), (Foto 4: Templos Budista Tibetano -Três Coroas - RS).
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